Simone de Lyon confessa : “sou louca por ele”

my heart is made in France - Bijoux

Eu juro, não era planejado. Mas a verdade é que, analisando bem minha trajetória, meu destino era mesmo amá-lo, respeitá-lo, exaltá-lo e dedicar minha vida a ele…Quem poderia imaginar ? Ele, este pedacinho hexagonal do planeta, terra sublime feita de paisagens e História. Ele, país dono de uma aura que precede seu nome, cuja própria pronúncia já prepara os lábios para um beijo gourmand : “Fffrança”.

Trabalhei por anos a fio nos quartéis-generais de suas marcas de luxo, fiz carreira, fiz amigos. E um belo dia de setembro de 2006, o que tinha que acontecer simplesmente aconteceu : cheguei, estudei e fiquei. E o batizei amorosamente de « Casa do Marcel ».

Por que Marcel ? Porque aqui é também a terra de Marcel Proust, Duchamp, Marceau, Pagnol, e, principalmente, o marcel branco, aquela camisetinha sem manga com que homens bigodudos e de boina (geralmente levando uma baguete tão dura quanto os estereótipos debaixo do braço) exibem seus peitorais ao som do acordeon nas ruas de Lutécia (e de outras joias menos turísticas, mas não menos sublimes pelas redondezas.)

Ninguém fica indiferente ao charme irresistível de um Marcelês. Vindos da terra do beijo de língua, dos vinhos Marcel marcelmillésimés e da boa gororoba (não necessariamente nesta ordem), eles constituem uma verdadeira patrulha do «Bon Ton » na ordem mundial. Sabem o que é bom, o que é bonito, o que é raro.

Vivendo como infiltrada em seu dia-a-dia, descobri , entretanto,outros aspectos desse povo cuja elegância é tão admirada. Por trás de suas carapaças blasées, ocultam-se também almas sensíveis. «Ecorchés vifs » atormentados permanentemente por reflexões filosóficas e reminiscências familiares, que não os deixam esquecer da finitude da vida. O avô resistente, o tio « Malgré nous » que morreu numa batalha em território Russo, o bisavô pacifista desertor…fantasmas de gerações inteiras que assombram os jantares natalinos e promovem discussões feitas de meias-palavras e tabus.

Mas não tem jeito, mesmo com todo o peso da história, um Marcelês é uma marcelês ; ele é feito de arte, de poesia, de cinema e de um certo espírito de rebeldia….Boris Vian, Truffaut, Nouvelle vague, Cocteau, Gainsbourg…tantos cantos de sereias marcelesas que ecoam nos recônditos mais  longínquos dos mapas ! Por culpa deles, esses seres metade peixe, metade musas de escultores de Montmartre de outros tempos, ninguém resiste aos apelos da grande dama hexagonal, da sua torre mítica e de suas grifes dos Campos Elíseos.

E foi escutando essa maravilhosa melodia mágica que cheguei até aqui. Da longínqua Brasa Hill diretamente para os braços de um Marcelês sedutor, que beijou minha mão e a pediu pra si num « hotel particulier » vizinho do arco do triunfo.

Hoje, somente a saudade de casa me faz de vez em quando comer a baguete que o diabo amassou. Mas tudo bem : enquanto ela for substituída de tempos em tempos por uma caixa de macarons da Ladurée ou uma barra de chocolate de Patrick Roger, dá pra administrar (afinal, os aviões servem pra isso, não é?)

Bom, meu « Marcel à moi » (de lambuja, um exímio chef de cozinha), terminou seu risoto de «Saint-Jacques» e me convida a degustá-lo em sua companhia. Marchons, marchons, como diz o famoso canto guerreiro Marcelês. Só não posso fechar esta apresentação sem avisar-lhe,caro leitor, cara leitora, que ao contrário do que possa imaginar (e para sua decepção,) quase não há mais marceleses bigodudos pelas ruas de Lutécia. Hipsters sim. Bigodudos, não. Mas o acordeon no peito , por sua vez, continua firme e forte.

Ainda bem.Saint jacques forever

Glossário Luso-Marcelês (clique nos links)

Marcelês
Lutécia
Brasa Hill

Agradecimentos : Le Monde et Moi (por foto ilustrativa).

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