Anselm Kiefer : livros até pra quem não gosta de ler.

Se você escrevesse o livro de sua vida, o que haveria nele junto a textos que descrevem os momentos mais marcantes? Fotos ? Cartões? Pétalas de rosas secas?

Anselm Kiefer redige o seu sem palavras, mas com elementos que contam sua história pessoal. Uma história que não pode ser descrita sem se inscrever na História do mundo, essa com H maiúsculo feita de guerras, chumbo, cinzas e estilhaços de vidas alheias.

A Biblioteca Nacional da França (BnF) acolhe até 7 de fevereiro de 2016 os “livros” do artista alemão numa exposição intitulada ” A alquimia do livro”. Em exemplares únicos, cada volume reúne diferentes obras em formatos e apresentações que evoluem ao longo das décadas. Isso explica porque, ao serem reunidas no final dos anos 80, essas “páginas” feitas de plantas, palha, cabelos, argila e areia constituem livros às vezes de grandes dimensões, pesando entre 70 e 200 quilos.

Mais conhecido por suas esculturas, quadros e fotos, Anselm Kieffer tem pela primeira vez na França uma retrospectiva desses “tomos”, que contam de uma maneira poética e sem o auxílio de verbos a sua própria visão da arte : algo que vai além do tempo e das correntes artísticas que a criam.

Expoente mais importante da cena artística alemã depois da segunda guerra mundial, o artista concebeu pessoalmente a disposição dos espaços da exposição, recriando seu atelier e sua própria biblioteca. Ele visa proporcionar assim uma fresta, pela qual os visitantes poderão observar mais de perto sua intimidade, que é normalmente inacessível ao público mas indissociável de sua obra.

Dos livros consagrados aos escritores às cosmogonias (The secret life of plants), dos grandes mitos antigos (Gilgamesh e Enkidu) à aquarelas eróticas realizadas sobre páginas recobertas de gesso, dos livros de areia aos livros queimados, o percurso criado através da centena de obras expostas na BNF revela os meandros do pensamento do artista e colocam o livro como ponto central do seu processo criativo. De suporte em suporte, ele deixa pistas do quanto a escritura e a literatura fazem parte de sua vida, de sua história e de sua arte.

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Nota do Marcel pra exposição de Anselm Kiefer na BnF:  

” Sensacional. Mas assim como os croque-messieurs servidos nos bistrôs perto das “gares ferroviaires“, eu prefiro as versões SEM cabelo”

Flash Dicionário

Gare ferroviaire : Sabe aquilo que deveria possibilitar o embarque e desembarque daquele trem rápido entre Rio e São Paulo e que, como a maior parte das obras prometidas em Brasa Hill, nunca saiu do papel ? Então, é mais ou menos isso. Só que com bistrô perto.
Cosmogonia :  Expressão rara na linguagem cotidiana na Casa do Marcel mas extremamente recorrente no conjunto da obra do Tom Zé.
(ps: o Marcel adora o Tom Zé.)

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